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          Tributo à participação de Fuzileiros no Contingente Português (FND-PRT ISAF)  destacado no Afeganistão, entre Setembro de 2010 a Abril de 2011, compilado pelo SAJ FZ RES Rogério Pinho e Silva:

 

HISTÓRIA À VISTA - 34

          HISTÓRIA À VISTA N.º 34, da autoria do VALM REF Adriano de Carvalho, no formato de Resenha Histórica do seu percurso profissional, publicada no dia em que com os seus restantes camaradas do Curso da Escola Naval "D. João de Castro", comemoram 71 anos de ingresso na Armada!
 
CAPÍTULO N.º I: "Início"
 
          Folheando há dias a minha Nota de Assentamentos, deu-me vontade de registar factos passados na minha vida de Marinha que ainda me restam na memória. Talvez porque os últimos tempos em que servi no activo, fosse em secretárias e não me despertem grande saudade, resolvi (certamente com algumas falhas), restringir-me especialmente aos navios onde embarquei.
          A pergunta que inicialmente faço a mim mesmo é: ”porque vim eu parar à Marinha”? A resposta mais fácil seria por razões de destino. Mas se quiser adiantar alguns motivos teria os seguintes: Porque sou natural de Aveiro e passava as férias na praia da Costa Nova onde aprendi a nadar e a velejar. Porque o meu pai (Of. do Exército com magro vencimento) e tinhas mais 2 filhos para educar e seria egoísmo da minha parte concluir um curso na Universidade do Porto onde fiz os preparatórios.
          De forma que vim para Lisboa concorrer simultaneamente à Academia Militar e à Escola Naval. A favor da primeira estava o facto de ter aprendido a montar, ainda miúdo, no Regimento de Cavalaria n.º 8 de Aveiro, onde o meu Pai prestava serviço. Cheguei mesmo a entrar em concursos hípicos pelo que escolheria a Arma de Cavalaria. O último “empurrão” no entanto foi da minha mãe, ”para a Escola Naval”, talvez por ela ser filha de gente do mar, avô que já tinha morrido quando eu nasci.
          Também pesou a vontade de conhecer o mundo. Por razões que me são alheias, nunca fiz nenhuma comissão no Oriente. O local mais a Leste onde estive foi no Mar Vermelho quando embarquei no “Sam Brás”. Fui sempre para os Açores ou para os EUA.
Em situações em terra, estive também na Guiné e Angola. Foram ao todo cerca de 9 anos fora de Lisboa, excluindo o tempo de pequenas comissões. Mas deixemos estes pormenores e comecemos.
          Terminada que foi a Escola Naval e a viagem de Guarda-Marinha a Angola, no aviso de 2.ª classe “Pedro Nunes”, tivemos mais um ano de estágio em que a rapaziada do meu curso foi distribuída por várias missões. A mim coube-me começar por ser Imediato da lancha de fiscalização “Dourada” que juntamente com a congénere “Corvina” operavam na zona Norte (e que se rendiam quinzenalmente).
          Esta era comandada pelo então 1º Ten. Soares Branco (mais tarde V. Almirante) e o meu Comandante era um 2.º Ten. de nome Gormicho Boavida, (pessoa de poucas simpatias) que depois de me examinar, achou que podia tomar conta dos quartos à ponte em que me cabia o da meia noite até quase a alvorada.
          Desta comissão que durou três meses no Outono de 1946, ocorre-me o seguinte: A determinada altura, tive a triste ideia de sugerir que durante a noite fechássemos as vigias de combate, de forma a não sermos facilmente detectados pelas traineiras espanholas que pescavam nas nossas águas, protegidas pela escuridão. A sugestão foi aceite e resultou em cheio, mas quem se “lixou” fui eu que tive que escrever os autos de transgressão, depois de chegarmos a Leixões com uma dúzia de traineiras espanholas, apresadas perto de Aveiro.
          Tudo isto depois de uma noite de faina sem dormir. Numa outra noite mais calma, e já de madrugada, saboreei a sanduiche mais gostosa da minha vida que me foi oferecida pelo padeiro, com pão acabado de sair do forno e uma sardinha fresquinha assada de conteúdo. Finalmente recordo que noutra noitada de nevoeiro, resolvi ir devagarinho com o navio até às proximidades de Leixões, navegando com o auxílio da sonda e marcações radiogoniométricas da nossa (então) estação de Leça.
          Quando de manhã cedo tive já o porto à vista, chamei o Comandante, muito orgulhoso do que tinha feito. Levei uma grande descompostura, mandou-me regressar ao mar alto e voltou ao camarote para continuar o sono interrompido.
          Calhou-me a seguir mais uma estadia de 3 meses no CT “LIMA” que se encontrava em fabricos no Arsenal do Alfeite e onde a minha vida se resumia a estar de adjunto de Oficial de serviço de 3 em 3 dias. Esta “santa vida” foi bruscamente interrompida para embarcar em diligência no CT “Tejo” que juntamente com o CT ”Vouga” e o “Bartolomeu Dias” (navio-chefe) constituíram uma força-naval para impor a ordem em Tanger (anunciavam-se manifestações), cidade na altura sob a égide da Sociedade das Nações e governada pelo nosso Almirante Magalhães Correia.
          A diligência dos G. Marinhas era destinada a comandar pelotões de desembarque para imporem a ordem caso fosse necessário (não havia Fuzileiros nessa altura) e ainda bem que não se registaram desacatos, pois o nosso treino de Infantaria deixava muito a desejar e, nem sequer houve tempo para treinos.
          Permanecemos em Tanger um fim-de-semana onde nos foi dado passear pela cidade e não gostei dos albornozes. O regresso no entanto, ficou marcado pelo desencadear de uma tempestade de “levante” no estreito de Gibraltar. Assim o Comandante do “Vouga“ pediu avisadamente para largar com antecedência, de manhã cedo de 2.ª Feira e safou-se.
          O “B. Dias” e o “Tejo“ largaram só depois de almoço e apanharam com a violência do mar e vento que felizmente era de popa, mas as vagas não permitiram ao “Tejo” aguentar o rumo. Várias vezes se atravessou e adornou perigosamente pelo que o Comandante pediu ao Chefe para arribar a Gibraltar. Apenas obteve autorização para aumentar a velocidade, mas foi aconselhado pelo Imediato (S. Branco) para não ir nisso e arribar com ou sem autorização.
          Foi o que se fez e foi posteriormente destituído à chegada a Lisboa. (Já não me recordo do nome do Comandante destituído que aliás me pareceu boa pessoa). De qualquer forma foi a primeira vez que fui a Gibraltar, tendo aproveitado para comprar várias quinquilharias, incluído um relógio de Cuco que ainda hoje existe em minha casa. Na terceira parte do estágio, coube-me em Maio ir para Imediato da LF “Bicuda” que felizmente actuava no Algarve, livre das desagradáveis nortadas do Norte.
          O navio estava a acabar reparações no Arsenal do Alfeite o que me permitiu, (com as respectivas autorizações) levar a bordo um snipe do CNOCA, que mais tarde me tornou possível velejar na Ria de Faro durante os tempos de folga. O meu Comandante era na altura o 1.º Ten. Fonseca, bom profissional, exigente mas correcto no trato. Como era algarvio, olhava frequentemente para as nuvens com receio de estar para vir algum levante.
          De resto estávamos já no tempo das praias serem frequentadas, fundeava-mos normalmente para almoço nas proximidades, o que proporcionava algumas visitas a bordo de banhistas femininas. A fiscalização da pesca decorria com normalidade e havia a “tradição” de desculpar, com reprimenda, a entrada ligeira das nossas traineiras nas 6 milhas, o que nos proporcionava agradecimento e a oferta de marisco que se guardava nas frigoríficas, para alturas mais propícias.
          Certa vez quando estávamos de folga, andava eu a velejar no snipe, surgiu à entrada da barra de Faro o iate “N. Sª da Piedade” da família “Sotto Maior” que vinha comandado pelo Com. Matoso, e guarnecido por vários Oficiais, (1.º Ten. Fonseca, o Vitorino do meu curso, o antigo Cabo de manobra do “Patrão Lopes” (guardador do iate), etc.
          Ficaram muito satisfeitos ao avistarem um snipe do CNOCA. Matoso e esposa seguiram para o Hotel e os restantes pediram-me para vir tomar duche na “Bicuda”. Ofereci-lhes então uma mariscada regada por cervejas. À noite fomos até um café de Faro, beber em galhofa mais umas cervejas e como o Café não tinha casa de banho, resolveu-se, por sugestão do Ten. Fonseca, chamar um táxi para nos levar a uma esquina fazer a necessária “mijada”.
          O iate ia posteriormente tomar parte numa regata internacional até Marrocos. Ainda me pediram para reforçar a guarnição, mas o meu Comandante não me autorizou. Voltámos a encontrar-nos mais tarde no cabo de S. Vicente e pediram então reboque até ao Cabo Sardão, mas o Comandante não estava para aí virado, acabando por conceder, caso eu tratasse de tudo.
Assim se fez. O Comandante foi entretanto substituído pelo 2.º Ten. Nascimento que aceitava de bom grado as indicações que lhe dava, provenientes da experiência que tinha adquirido. Demo-nos sempre muito bem e mais tarde quando me encontrava saudava-me sempre com a frase:
- “Olha o meu 1.º Imediato”.
          A esposa era uma Sra. algarvia, muito simpática e que saboreava com prazer os mariscos que lhe oferecia, quando aparecia a bordo no regresso a Faro para a folga. Já me esquecia de dizer que fui encontrar no Algarve uma classe de Marinha que desconhecia e que era constituída por 3 “práticos”. A sua missão era manter actualizada a melhor entrada nas barras arenosas e movediças do Algarve, para servirem de pilotos aos Comandantes.
          Lembro-me que um deles se chamava Cabrita. Terminada que foi a estadia no Algarve, acabou-se o nosso ano de estágio, seguiu-se o habitual exame prático, a bordo do “Bartolomeu Dias” e a nossa seguinte promoção a 2.º Tenentes.
          Coube-me depois o embarque no “S. Brás”, fase de que já tratei em artigo anteriormente publicado. Seguiu-se o curso de especialização em Rádio-Comunicações na antiga Escola de Mecânicos em Vila Franca. Tive como mestres o 1.º Ten. Toscano e o 2.º Ten. Monteiro. O curso era constituído apenas por três 2.º Tenentes (Gil Conde “Av. Naval”, Louçã e eu era o mais “marreta”).
          Terminando este capítulo com humor, lembro-me que o Toscano passava quase metade das aulas a dizer que não tinha tempo para terminar o programa e de facto assim foi… Por outro lado, contava histórias engraçadas das quais me recordo da discrição duma visita dele com um amigo a uma exposição de arte moderna. À saída o amigo exclamou:
- “mas que grande mer….
O expositor ouviu e perguntou-lhe se ele percebia alguma coisa de arte moderna. Resposta:
- ”de arte moderna não percebo nada, mas de mer… percebo".

HISTÓRIA À VISTA - 37

          Retomando a rúbrica "História à vista", vou continuar a publicar artigos da autoria do VALM REF Adriano de Carvalho, redigidos em formato de Resenha Histórica do seu percurso profissional.
 
 
CAPÍTULO N.º II: "Bartolomeu Dias"

         A 09 de Agosto de 49, acabada que foi a especialização em Comunicações, embarquei e no Aviso de 1.ª classe “Bartolomeu Dias” onde servi cerca de 3 anos. Foi o navio onde me mantive mais tempo na Armada.
         O “B. Dias” encontrava-se na doca de Alcântara (estaleiros da antiga CUF) a terminar grandes fabricos de manutenção. Foi então nomeado comandante o CMG Negrão Neto (NN), que escolheu para Imediato o 2.º Comandante que tinha tido em V. Franca (Cap. Ten. Andrade e Silva).
         Embarcaram também pela mesma altura os 2.º Ten. Saturnino Monteiro (art.), Estácio dos Reis (elect.) e o Turibio de Abreu. (nav.). Registe-se que todos nós éramos oficiais muito novos, acabados de especializar, talvez porque os mais antigos não gostassem de servir com o comando escolhido.
         O Chefe de máquinas que nos antecedeu era o Eng. Coimbra. Foi mais tarde nomeado o Médico, Dr. Paz Pereira.
         A vida a bordo deste confortável navio, foi completamente estragada pela personalidade conturbada do Comandante. Não era estúpido, mas tinha falta de bom senso. Era muito dado a castigos por tudo e por nada e fazia pouco uso do sentido de responsabilidade. O pior de tudo no entanto, era sua completa negação para a manobra do navio nas suas atracações.
         Contava-se que nem sequer foi capaz de tirar a carta auto de condução militar que era válida para o país e que era passada pela unidade que comandava (Esc. de Mecânicos). Era sempre sugerido pelo Júri que praticasse mais um pouco…
         Dizia-se também que de outra vez enfiou o C. Torpedeiro que comandava, pelo gurupez da Sagres exclamando em voz alta: “eu pago tudo, eu pago tudo”. Claro que não pagou nada e aumentou a sua conta de “dívidas” à Fazenda Nacional…
         No entanto era bem visto pelas esferas superiores e é de reconhecer que apesar das suas deficiências, dedicou toda a sua vida a servir a Marinha.
         Todavia o Imediato que era um “yes man” também teve culpas no cartório. Basta dizer que quando entrava de licença e era substituído pelo Saturnino, a vida a bordo era muito mais sossegada. O segredo era não pôr inicialmente objecções às suas ideias extravagantes e no dia seguinte dizer-lhe com cuidado: “Sr. Comandante, estive a pensar sobre a sua ordem tal, e era de opinião que se reformulasse em alguns aspectos, etc". O homem então aceitava discutir e alterar as suas ideias.
         Isto foi ensinamento do Saturnino, crucial para se evitar muita chatice. Mas a vida no “B. Dias” não começou bem, visto que nos finais dos fabricos houve uma explosão nas frigoríficas (provocada por uma troca de garrafas de CO2 por Oxigénio), de que resultou 7 mortos, entre marujos e operários, um dos quais era o SubTen Eng. Taborda, dos meus tempos da EN. Tudo isto se deu quando o Comandante ficou viúvo e eu estava de licença, tendo-me apresentado logo que soube da ocorrência.
         Para não ser muito longo vou apenas referir-me às duas missões mais importantes que o navio desempenhou com o referido comando: Em Junho de 50 efectuaram-se as últimas manobras navais à portuguesa, ou seja antes de se aplicarem as normas NATO. De qualquer forma foram manobras de certa importância, pelo número de navios envolvidos.
         Além do “B. Dias”, entraram nas manobras três contra-torpedeiros, uma fragata, um submarino e dois patrulhas. As manobras realizaram-se entre a Madeira e Açores com descansos semanais no Funchal ou P. Delgada.
         O “B. Dias” era o navio-chefe e levava a bordo o Comodoro da F. Naval do Continente, CMG Ferraz, que tinha sido o Imediato do Carvalho Araújo no combate com o submarino alemão na 1.ª G. Guerra. Trazia como C. E. Maior o Cap. Ten. Castro e Silva e como ajudante o 2.º Ten. Limpo Serra.
         Quando passámos pela posição em que se tinha dado o combate com o submarino alemão, o Comodoro fez por intermédio do transmissor (TCS12) uma prelecção histórica para todos os navios de cerca de 10 minutos, sobre o que se tinha passado.
         Houve no entanto um Patrulha que não tinha boa recepção e que transmitiu no fim “say again”. Respondi “estas coisas não se repetem…”.
         O nosso Comandante NN (que tinha também alcunha de “nabiças” pois era semi-vegetariano, não aceitava facilmente ter a bordo quem mandasse mais do que ele e daí que as pegas com o Comodoro fossem constantes.
         Certa vez ao entrar no Funchal, o navio ia com excessivo andamento e o Comodoro já nervoso disse: “Oh Comandante não acha que vai depressa de mais?”. O NN perguntou-me: “acha Adriano?“ Respondi que sim e além de ter mudado o telégrafo para “devagar a vante”, fui avisando pelo telefone as Máquinas para se prepararem para marcha a ré a toda a força.
         O navio acabou por estacar a 6 metros das rochas do fundo do porto! Além disso estivemos várias vezes em risco de colisão durante as manobras, pois o NN enganava-se quase sempre nos cinemáticos. Nós, Oficiais, já há muito que tínhamos tomado a atitude de só darmos a nossa opinião quando ele já aflito pedia sugestões, aliás sempre tarde.  Noutras alturas tomava atitudes excessivamente realistas, tal como no exercício de abandonar o navio em Porto Santo, a que nem o cozinheiro de bordo escapou. Conclusão, estragou-se o almoço e as jangadas tiveram que ir para reparar no Arsenal.
         Mas a mais importante comissão desempenhada no meu tempo foi a volta de África, para instrução do curso de G. Marinhas “Pedro Alv. Cabral”, cujo chefe era o Dores Pinto e que incluía também o meu irmão.
         A viagem iniciou-se em Outubro de 50 e teve 5 meses de duração, com a extraordinária particularidade de termos tido sempre bom tempo. Tocámos os portos mais importantes das nossas possessões, incluindo S. João Baptista de Ajuda. Dobrámos o Cabo da Boa Esperança com mar espelhado, saímos pelo Canal do Suez e ainda escalámos Malta no Mediterrâneo.
         O ambiente a bordo que nunca foi bom, piorou com o embarque dos G. Marinhas. Para esta viagem embarcaram o 2.º Ten. Costa Santos (que substituiu o Turibio de Abreu) e o 1.º Ten. Vieira Coelho como Director de instrução dos G. Marinhas.
         Acabaram ambos por ser castigados, pois não tinham a nossa experiência de lidar com o NN. Fomos extraordinariamente bem recebidos em todos os portos onde tocámos, até porque na altura era Ministro do Ultramar o Alm. Sarmento Rodrigues.
         No Lobito onde o navio permaneceu 15 dias, teve lugar a visita às minas dos diamantes na Lunda e os Oficiais escolhidos fizeram greve à excursão, (devido ao mau ambiente) mas acabaram por ter ido com passagem de guia de marcha. Eu fazia parte deste grupo e ainda bem que fui obrigado, porque foi uma visita inesquecível.
         Andámos cerca de 1000 km de comboio e mais 600 de carro por estradas que se tornavam rios quando caiam grossas chuvadas.
         No entanto à chegada fomos alojados como príncipes. Eu e o Estácio ficámos numa moradia com criado que de manhã depois de nos servir um óptimo pequeno- almoço, apresentou-nos as nossas fardas brancas, lavadas e engomadas.
     Visitámos depois as diversas instalações e notava-se em tudo uma extraordinária organização. Por exemplo os carros de serviço eram todos da mesma marca e na garagem havia um grande armazém com todo o tipo de sobressalentes.
         Havia também um pequeno Hospital com muito bom aspecto, onde nos foi dado ver alguns indígenas que foram atacados por leões, nas proximidades.
         No departamento das minas exibiram a silhueta do nosso navio com diamantes estendidos numa mesa de ping-pong. Havia também um aparelho de raio X para examinar à saída os trabalhadores (de cor) que trabalhavam em turnos de 15 dias.
         Também fomos desafiados para um jogo de futebol e ofereceram-nos um baile de despedida, regado com champanhe francês, e as nossas mesas estavam gentilmente guarnecidas pelas senhoras locais (casadas) com lindos vestidos de baile.
    O Director das instalações era um engenheiro português que denunciava ser fora de série e certamente escolhido pelo Comandante Vilhena que comandava o negócio em Lisboa.
         No entanto o nosso NN escusou-se a participar na maioria das recepções oferecidas alegando o seu estado de viuvez. Das situações caricatas sucedidas nesta comissão, menciono as seguintes:
         Passados dois dias de largados de Lisboa, saiu do seu camarote e apareceu na câmara o Dr. Paz Pereira (um dos mais enjoados da nossa frota) que com ar desconfiado olhou para um e outro bordo e exclamou em voz alta: ”Afinal isto está uma excursão porreiríssima!”.
         A frase chegou ao ouvido do NN e daí sucedeu que nunca mais teve descanso, recebendo afazeres impostos por papelinhos do pequeno bloco de notas guarnecido com papel químico, onde registava as ordens dadas.
         Diga-se de passagem que várias vezes fizemos desaparecer o caderninho, o que deixava o nosso chefe desorientado. O certo é que uma das missões atribuídas ao Médico, foi a de fazer uma palestra aos G. Marinhas sobre o feito do nosso patrono, na dobragem do Cabo das Tormentas.
         A cerimónia decorreu na tolda, (em formatura) com a cidade à vista e mar de “patas” estanhado. Pensei cá para mim que nunca o “Mostrengo” fora tão enxovalhado, com tal prelecção proferida nas suas “ventas” pelo tipo mais enjoado de bordo…
         Visitámos depois Lourenço Marques onde permanecemos cerca de uma semana, decorreram várias cerimónias e fomos muito bem recebidos.
         Além de confraternizar por lá com alguns familiares, tive ainda o prazer de numa das recepções, encontrar um casal de Médicos que tinham sido meus condiscípulos no Liceu José Estêvão em Aveiro.
         Seguiu-se Inhambane e à entrada da barra entrou a bordo um “prático” de cor da Capitania local, a que o nosso NN “racisticamente“ não passou cartão. De facto se a tarde não estivesse tão ventosa, a manobra seria a de simples atracação a um molhe de cimento em T existente no interior do porto. Com a ventania, aconteceu a cena que apelidei de “Debandada” e que passo a descrever:
         Tocou à faina e ouviu-se pelo ETO a ordem: “Oh Imediato vamos atracar por bombordo.” O imediato ordenou os respectivos preparativos com cabos e defensas, mas os 10 minutos gastos, fizeram com que o vento o virasse o navio de 180º. Ordem - “Afinal Oh Imediato o navio quer atracar por estibordo.”.
         Entretanto uma banda tocava marchas militares no cais, à nossa espera. Mais 10 minutos a mudar a tralha e mais uma vez o vento mudou o navio de bordo. A cena repetiu-se por mais que uma hora, a banda já tocava com menos entusiasmo e de repente o “próprio navio se “chateou” com a demora e avançou de proa contra o cais.
         A banda quando viu a proa do navio avançar sobre eles, começou a desafinar e debandou (termo muito apropriado para a ocasião).
         O cais resistiu ao embate mas a nossa proa abriu uma grande boca. O Comandante como era seu hábito nas várias mossas que causava ao navio, chamou o Eng. Coimbra que desta vez declarou que a reparação da avaria estava fora das suas possibilidades.
         Aconselhou no entanto que se pedisse auxilio à oficina local dos caminhos-de-ferro que também se declarou incapaz, sugerindo-se no entanto que o rombo fosse tapado e soldado com folha-de-flandres. Foi o que se fez e depois de tudo pintadinho de cinzento a coisa ficou escapatória à vista, situação que durou até ao regresso a Lisboa. Não foi no entanto determinado a abertura de qualquer auto de ocorrência …
         Na Beira os G. Marinhas tinham um convite para visitar a Reserva Natural da Gorongoza, mas o nosso NN que estava zangado com os alunos recusou o convite, alegando que eles estavam cansados. Perderam uma visita de grande interesse e ainda por cima foram gozados pelas miúdas da terra.
         Os únicos portos estrangeiros que visitámos foi Mombaça e La Valeta (Malta) além de Alexandria, depois da saída do Canal do Suez, onde tivemos oportunidade de fazer uma excursão às pirâmides e ao Cairo (com dança do ventre em cabaret) tudo à nossa custa, claro.
         Recordo que em quase todos os locais onde estivemos, éramos desafiados para um jogo de futebol e não me lembro de termos perdido algum. Tínhamos uma selecção de elementos da guarnição e do curso de G. Marinhas em que eu e o meu irmão fazíamos parte, mas o elemento-chave da equipa era o Eng. Nabais, dotado de grande habilidade que aproveitava para fazer golos. Só que tínhamos poucas hipóteses de treino.
         Mesmo assim, desafiados pela selecção dos navios ingleses (cruzadores e destroyers) que se encontravam em Malta, ganhámos por 4/0. Ainda apareceu a bordo um oficial inglês para pedir desforra no dia seguinte e recusámos por falta de tempo para recuperarmos.
         Mas o dia da chegada a Malta coincidiu com o falecimento do Marechal Carmona e os navios de guerra ingleses estavam todos de bandeira a meia haste.
         Nós já sabíamos da notícia pela rádio mas o NN exigia comunicação oficial para fazer o mesmo. Veio então a bordo um Oficial inglês comunicar oficialmente o sucedido, mas ele só arreou a bandeira depois do almoço que ofereceu ao nosso cônsul….
         Finalmente chegámos a Lisboa e a casa. Já agora abro um parêntesis para contar que a minha filha mais velha que tinha nascido pouco tempo antes do início da viagem, recebeu-me muito bem, brincou comigo, mas já mais tarde perguntou à mãe: “Oh mãe, quando é que este homem se vai embora?” (percalços da vida de Marinha).
         Passadas umas semanas depois da chegada, tivemos o prazer de ver o nosso NN substituído pelo CMG Oliveira Lima que estava à muito tempo na “prateleira”, porque comandando uma força de Marinha não ligou nenhuma à passagem de uma formação da Legião Portuguesa.
          Trouxe como Imediato o Comandante Aragão, de forma que o navio passou a ter um “importante trio “ de Oficiais republicanos, contando com o Eng. Coimbra.
         O ambiente a bordo mudou completamente e a guarnição viu com agrado que o novo Comandante descia à Câmara de Oficiais para jogar bridge.  Certo dia chegou muito satisfeito dizendo a mim e ao Estácio que já tínhamos marcada uma comissão de viagem de instrução de Cadetes, aos Açores e Ceuta.
         Perguntámos-lhe então se ele sabia que o navio estava sem proa. Disse que o seu antecessor (com quem estava de relações cortadas desde o tempo de 2.º Ten.) apenas lhe tinha passado a chave da secretária. Lá se conseguiu uma entrada de emergência nos estaleiros do Arsenal do Alfeite, onde se reparou a avaria a tempo de iniciar a viagem.
         Lembro-me que em Ceuta (era na altura uma praça forte espanhola), fomos recebidos pelo General Comandante da Legião Espanhola (Queipo de Lhano) que num beberete brindou por Franco e Salazar. O Nosso Comandante respondeu com um brinde por Portugal e Espanha. Perdeu assim a condecoração que lhe estava preparada…
         Mas a comissão que mais me emocionou foi a da nossa ida a Brest para trazer para cá o féretro da Rainha D.ª. Amélia. Embarcou como representante da família real o Visconde de Asseca (parente do capelão que tinha tido na Escola Naval). O nosso Comandante apesar de republicano, exigiu que o Visconde fosse tratado a bordo com a maior cortesia, ficando instalado na camarinha do Comandante a navegar.
         As autoridades francesas tomaram o caso muito a sério e a cerimónia do embarque foi alvo de importantes honras militares (um batalhão de Marinha formado no cais e 21 tiros durante o içar do féretro, com apresentar armas).
         Diga-se de passagem que Salazar já tinha convidado a Rainha a visitar Portugal em 1945 (17 Maio a 30 de Junho) que a D. Amélia aceitou de bom grado, porque ela amava Portugal, apesar de lhe terem assassinado o marido e o filho mais velho na carruagem onde seguiam.
         Já agora conto que em Brest na noite anterior ao dia da cerimónia, calhou que num bar local elegante onde entrámos, fosse-mos (eu mais 2 camaradas) convidados gentilmente por umas senhoras a sentarmo-nos à mesa delas. A conversa teve por base a nossa rainha e às tantas disseram que nós tínhamos sido uns selvagens, ao matarmos-lhe o marido e o filho à queima-roupa na carruagem onde seguia toda a família real.
         Respondi que os compatriotas delas fizeram muito pior ao Luís XVI e à Maria Antonieta que foram à guilhotina na praça pública. Ficaram caladas.
         À chegada a Lisboa tínhamos 3 rebocadores à nossa espera para nos ajudarem a atracar ao cais SSE onde se encontrava o Salazar, sentado em bancada com os seus ministros, para assistirem ao desembarque do féretro e seguinte cerimonial.
         O nosso Comandante dispensou os rebocadores e atracou em manobra limpa no espaço que nos estava reservado. Para terminar apenas direi que passado uma semana, veio a bordo o Visconde de Asseca agradecer a forma como tinha sido tratado a bordo e ofereceu ao navio um quadro pintado pelo rei D. Carlos sobre uma fragata no Tejo. Mas eu já tinha 3 anos de navio e a minha saída era inevitável.
         O Com. O. Lima não só me louvou como me apresentou a oferta de um curso de electrónica nos E.U.A, provavelmente obtido em conversa com o Com. Ramos Pereira, que eu aceitei. A minha comissão no “B. Dias terminou em 7 JUL de 52.
         Foram entretanto nomeados mais três Oficiais (A. Leitão, H. Leitão e Wagner) para o referido curso em Great Lakes, perto de Chicago. Para contradizer a estatística só eu que era o mais velho, ainda por cá ando.
         O António Leitão ficou em n.º 1 do curso de cerca de 40 Oficiais (metade americanos e outra metade internacional). Eu e o A. Leitão tivemos a classificação de “out-standing”.
     Por isso só voltámos os dois da América em finais de Outubro de 53, pois estivemos mais 3 meses à espera de atender um estágio para o qual tínhamos sido nomeados, na fábrica da “Federal” que tinha vendido à nossa Marinha radiogoniómetros (DAK3) e instalado a linha telefónica da Marinha entre Lisboa e o Alfeite.
         Ficámos adidos às autoridades Navais Americanas em N. York, à espera do tal estágio, mas não fomos deixados parados. Recebemos guias para várias Bases Navais onde nos era dado assistir a exercícios da Marinha Americana. Estivemos assim em muitas cidades portuárias, pelo que ficámos a conhecer mais América do que a maioria dos naturais.
         O tal estágio durou 2 semanas sob a assistência de um excelente engenheiro de origem Judaica, com quem ficámos amigos. Achou que os nossos conhecimentos de electrónica estava fresco e fez-se o estágio em metade do tempo previsto. Depois confraternizou connosco e levou-nos a várias exposições ligadas a assuntos electrónicos, incluindo matéria de alta-fidelidade que estava em começo na altura.
         Tratei entretanto do regresso a Lisboa num paquete de luxo italiano, mas não me foi dado esse prazer por ter recebido ordens de Lisboa para me apresentar com urgência. Vim então de avião e na Superintendência passaram-me guia para a Escola de Mecânicos, onde afinal não havia urgência nenhuma por se estar ainda em férias.
         Aproveitei para entrar de licença, mas perdi estupidamente a viagem de paquete. Acrescento que nunca a Marinha teve qualquer proveito desse estágio porque nunca tal nos foi pedido.
         Em V. Franca fui instrutor de electrónica e fundei o respectivo curso na Armada sob a égide e apoio do Comandante C. Alm. Moreira.

CONVERSAS INFORMAIS

DIA NACIONAL DOS CADETES DAS ESCOLAS DE PORTUGAL

DIA DA RESERVA NAVAL

38.º ENCONTRO NACIONAL DE MARINHEIROS E EX-MARINHEIROS

IV ANIVERSÁRIO DA DELEGAÇÃO DE FUZILEIROS DO ALGARVE


LEITURAS À VISTA - 05

          Retomando a resenha “LEITURA À VISTA”, no seu caso a 5.ª, recomendo o livro: "Tiro de Defesa - Pistola & Revólver", redigido pelo 1Sargento FZ Miranda Neto.

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
          «Sobre o autor: Alisto-se na Marinha de Guerra Portuguesa em 1985 e concluiu o Curso de Fuzileiro em 1986, nesse mesmo ano entrou para os Quadros Permanentes daquela Corporação.
          Em 1987 ingressou no Destacamento de Acções Especiais, Unidade que pelas suas peculiares características, lhe proporcionou experiências nacionais e internacionais impares no manuseamento de armamento, táctica e tiro.
          Na área do tiro e armamento frequentou vários cursos ministrados na Armada. Formou atiradores de diferentes ramos das Forças Armadas e Forças Policiais nacionais e estrangeiras.
          Em termos profissionais, foi responsável pela compilação de diversas doutrinas e manuais técnicos sobre tiro de combate
».

O ADEUS À CORVETA JOÃO COUTINHO

HISTÓRIA À VISTA - 35

          HISTÓRIA À VISTA N.º 35, da autoria do 1.º Comandante do Navio de Apoio “NRP São Miguel” - CMG REF Oliveira e Costa (1985-1988), versando sobre a estadia no Brasil.
 
MEMÓRIA n.º 14: "Meu Anjo…"

          Atracámos ao cais em Fortaleza, no Nordeste Brasileiro! A Banda do NE “Custódio de Melo” retirou depois de o Mestre ter apitado “Volta à Faina”. Colocada a prancha entraram o Adido de Defesa junto da Embaixada de Portugal em Brasília, Coronel do Exército, e o Oficial de Ligação, Tenente de Administração.
          Acertaram-se os pormenores do cerimonial dos cumprimentos, retribuições e tomámos conhecimento das actividades previstas durante a permanência do N.R.P. “S. Miguel” naquela Cidade. À noite saímos e jantámos na avenida marginal seguindo depois, para um Hotel próximo, a convite do Adido de Defesa que, juntamente com a mulher, ali nos esperava juntamente com outros casais seus conhecidos e amigos.
          O navio ficava relativamente longe do centro da cidade mas a distância percorria-se muito bem a pé. Ao longo do dia havia sempre vento proporcionando uma temperatura muito agradável. Chegados tirámos logo uma fotografia ao Imediato junto duma placa, com o nome da rua, de um tal Meyrelles, um recente e ilustre seu antepassado! Quando já perto do restaurante passaram vários “Buggies” conduzidos e ocupados por jovens graciosas e “modestamente” vestidas com reduzidos “Tops & Shorts” que, abrandando, nos chamavam num alto e claro “Psst! Psst!” inquirindo se queríamos boleia! Passada a surpresa decidimos que íamos jantar!
          Depois seguimos para o Hotel onde éramos aguardados pelo Adido que se fazia acompanhar da mulher jovem, simples, extrovertida e extremamente simpática. Na sala grande, tomou-se café e ficámos até tarde a conversar. Curiosamente a mulher do Adido deambulava entre nós e com graça dizia que preferia estar junto de nós mais jovens e bem-dispostos. Foi um convívio muito agradável. Quando a bordo me deitei na minha cama, onde não ia desde a saída de MOTBAY, recordei aquele primeiro dia.
          Desde pequeno que acalentava a ideia de ir ao Brasil e a Macau. Ao Brasil já tinha chegado a Fortaleza, a Macau talvez na “próxima vinda”, digo eu hoje! No segundo dia no almoço, a bordo, tínhamos como convidados o Adido de Defesa Português e o Cte. do NE “Custódio de Melo”, um Capitão de Mar e Guerra da Classe de Máquinas. Dei-lhe a presidência da mesa e… fiz mal! Homem grande gostava de exibir-se e fazendo alarde das amizades, que mantinha com oficiais da Marinha de Guerra Portuguesa, levou a maior parte do almoço pretendendo chamar a atenção sobre a sua pessoa e eu sem jeito de o contrariar.
          Entretanto, ao longo da sua prosa, deixara entender que em breve seria promovido a Almirante deixando o comando do navio. Perto do fim da refeição quis “discutir” o termo “controlo” que os portugueses incorrectamente diziam “controle”. Queria saber a minha opinião. Estava farto! Na véspera soubera do prazer da maioria dos brasileiros em contar anedotas, com muita graça diga-se, onde a figura do “tanso” era quase sempre desempenhada pelo “português”. Anedotas que cultivavam e estavam sempre disponíveis para contar! Curiosamente no dia anterior ofereceram-me um livro, com mais de cem páginas, só de anedotas do “português”.
          Encurralado olhei-o bem na cara e perguntei-lhe com um sorriso “Ó senhor “almirante” por acaso não é nenhuma anedota de portugueses? O almoço continuou de forma mais comedida terminando pouco depois. De tarde fomos recebidos na Capitania dos Portos do Ceará onde nos serviram entre outras bebidas “Água de Coco” muito fresca, com aguardente de cana e sumo de pêra de caju, mistura explosiva naquele tempo morno que nos envolvia completamente. Outra muito apreciada foi a “batidinha de coco”.
          Terminado aquele convívio seguimos para uma visita rápida à “Escola de Aprendizes-Marinheiros do Ceará”, uma “Fragata D. Fernando II e Glória” em ponto muito, muito grande, que me seduziu pelo serviço prestado à comunidade e à formação que ali era conseguida. Regressámos a bordo em cima da hora para ir jantar ao NE Custódio de Melo a convite do Comandante. Ainda não “recuperara” do almoço e pedi ao Imediato para me representar. Várias vezes tentou dissuadir-me da decisão mas perante a minha renitência lá foi com a incumbência de apresentar as minhas desculpas justificando, se possível, de que durante a tarde ficara indisposto e recolhera a bordo.
          Que eu saiba a minha “não comparência” mereceu uma “elogiosa” carta para os amigos de Lisboa! Nessa tarde soubemos que o pessoal do navio tinha feito uma “conta” no telefone civil, instalado pouco depois de atracarmos, no valor de 80 contos (PTE)! Foi o preço, das saudades de casa, de trinta dias…
          Não havendo registos das chamadas efectuadas fez-se a necessária reunião com o pessoal conseguindo-se identificar a quase totalidade das chamadas ultrapassando assim uma situação que poderia ser desagradável. Os dias foram passando sempre com bom tempo e um clima ameno. Na cidade muita gente nas ruas, comércio muito animado e por todo o lado música brasileira. Qualquer loja por mais pequena que fosse tinha música.
          Era um granel radiofónico aceite e participado por todos. Já com grande à-vontade e conhecedores das ruas principais da baixa fixávamo-nos, de dia, no Mercado Artesanal, um centro turístico de visita obrigatória, instalado numa antiga Cadeia Pública onde as celas foram aproveitadas dando lugar a pequenas lojas de artesanato e no pátio central uma esplanada onde serviam café, cerveja e gelados. Ali passou a ser o nosso “Meeting Point”! Nas lojas do Mercado, onde julgo todos compraram as tradicionais “Redes”, certamente fruto da canção na altura muito em voga “Bota a rede na varanda…”, e também na esplanada as empregadas jovens, alegres e exuberantes, como a maioria da juventude brasileira, já conheciam os elementos da guarnição do “S. Miguel”!
          Para o fim do dia o “programa” era diferente. Ao fim da tarde bebiam-se caipirinhas acompanhadas de patinhas de siri como entrada para o sóbrio jantar seguido de um aprazível passeio na marginal para “desmoer” a picanha e a caipirinha. Recuperados, animados e bem-dispostos seguia-se para o Forró! O Forró é uma festa tipicamente nordestina, onde são incluídos diversos ritmos musicais daquela região, danças praticadas ao jeito europeu mas acrescidas do balançar dos quadris, como o fazem os africanos.
          Conhecido e praticado em todo o Brasil, o Forró é especialmente popular no Nordeste brasileiro e em especial na cidade de Fortaleza onde são promovidas grandes festas. Os empreendimentos mais importantes eram “O Pirata”, considerado a Catedral do Forró, curiosamente propriedade de um português, e o “Clube do Vaqueiro”. Foi naquele ano que apareceu a “lambada”, dançada e cantada naqueles dois grandes espaços, mas só dois anos depois surgiu como um sucesso. Estes grandes empreendimentos, democráticos, onde a animação era um “must” numa festa por todos vivida.
          Além da música e da dança estes locais boémios da cidade, ofereciam além de outros divertimentos um alargado serviço de restauração, onde imperava o tradicional churrasco. Encerravam para descanso ao domingo mas outro havia, “A Cervejaria”, tão grande quanto os outros, que nesse dia dava Forró! A vida, em Fortaleza, sem Forró não era vida. Nesta “casa” havia uma particularidade, inédita, enquanto o cliente não deitava o copo as empregadas em constante movimento, enchiam-no sempre!
          Eram lugares de homenagem à vida. Havia alegria e irreverência, numa explosão de cores e ritmos. Ali, não importava a idade, classe social, etnia, nacionalidade ou religião. Havia espaço e respeito para todos. Apesar de tudo, da excitação, do barulho e da juventude devo realçar que as mulheres, enriqueciam a festa, sempre atarefadas em conseguir par, para a dança, já que o “bicho homem” era escasso.
          O Engenheiro cansado do dia-a-dia, a bordo, de volta das avarias, dos fabricos e do calor, esforçava-se por acompanhar os camaradas, quando de licença. Depois do jantar ligeiro, normalmente precedido de umas caipirinhas, rumava-se ao clube. Ali num ambiente barulhento, é certo, mas agradável e acolhedor sentava-se confortavelmente e, com insuspeitada facilidade, fechava os olhos em comatoso descanso!
          Sozinho e abandonado à mesa logo surgiam benfazejas criaturas que sacudindo o pobre mortal despertavam-no chamando-o à dança… Pobre Engenheiro! Nesta estadia fomos muito bem recebidos sempre acompanhados, além do Adido e mulher, por dois portugueses ali residentes dos quais um deles, que desempenhava funções na Administração Local do Município, era de Arganil, terra do meu Pai, e talvez por isso surgiu forte empatia acompanhando-me durante toda a nossa permanência, de 29SET a 06OUT, naquela encantadora cidade.
          O nosso dia-a-dia era preenchido pelos serviços de bordo e acompanhamento dos fabricos seguido da obrigatória ida ao Mercado de Artesanato e só depois passar ao “Programa” da noite que terminava no Forró ou, “quiçá”, ainda prolongado por eventual acompanhamento psicológico… a alguma alma perdida ou carente! Durante a semana a guarnição visitou, acompanhados do Adido, mulher e do nosso anfitrião de Arganil, um empreendimento nas Praias do Futuro, a convite do gerente, português também de Arganil. Com restaurante, piscina e quartos. Um empreendimento do tipo vertical. Era só chegar e arrumar as bagagens ali tinha tudo!
          O pessoal foi todo tomar banho bem como o Adido e mulher, esta era o único elemento feminino presente no evento. De biquíni, cuja parte superior era bem menor que a inferior, despertava olhares cobiçosos, embora respeitadores, de todos os elementos ali presentes, situação, julgo eu, que não desagradava de todo à senhora.
          O marido, uma simpatia e amigo sempre presente ao longo da nossa estadia em Fortaleza, ria-se dizendo-lhe carinhosamente: “sua carioca malandra!”. Por sugestão do despenseiro tínhamos levado de Lisboa um carregamento de sardinhas, muito apreciadas no Brasil, para se comerem com a Comunidade Portuguesa residente naquela Cidade do Nordeste. No sábado dia 3OUT, depois de tudo bem combinado, nas instalações da “Sociedade Beneficiente Portuguesa Dois de Fevereiro”, localizada nas Praias do Futuro, iniciou-se um convívio que marcou pela alegria e prazer, a todos sem excepção, onde antes de terminar já deixava saudades!
          Estiveram presentes mais de 200 pessoas onde cada família levou a sua contribuição. Nós levámos as sardinhas, grandes e luzidias, dignas de representar Portugal e o “S. Miguel”! Começou-se com Água de Coco, bebida directamente dos cocos, já preparados e guardados em arca frigorífica. Houve quem preferisse cerveja e de prato na mão servíamo-nos duma mesa central onde se colocaram os alimentos que levaram para o convívio.
          A parte do “S. Miguel”, exposta junto do grelhador, foi uma das mais aplaudidas. Aquelas sardinhas, para onde convergiam olhares gulosos, eram gordas, grandes, brilhando intensamente sob a forte luz do sol, também faziam parte daquele imaginário que a saudade não deixava apagar e que se encaixavam tão bem naquele encontro! Até eu assei sardinhas! O Eng.º, de forma inesperada, também ajudou no assador, ele que a bordo continuava a não prestar o seu contributo na feitura do jantar das quintas-feiras, quando a navegar, participando somente no repasto, apreciando e criticando, sempre de forma construtiva, na avaliação dos pratos apresentados!
          Não há espaço que contenha as descrições que tal encontro proporcionou. O Doutor, outro dos “rendidos” perante tanta beleza e juventude, ficou eterno enamorado daquela terra e das suas gentes filmando metodicamente e com rigor aquele encontro! Curiosamente naquele dia faziam anos dois elementos do “S. Miguel” e dois dos presentes cearenses o que deu azo a que o convívio fosse mais demorado! Talvez por isso, um dos elementos do navio deixou aquele encontro de forma sub-reptícia acompanhado por carinhosa jovem preocupada pelos sinais de impaciência, ansiedade, denunciadora de grave carência afectiva ou por algum incómodo momentâneo, quem sabe provocado por alguma espinha teimosamente atravessada na garganta, ditando o seu preocupado e incondicional apoio a quem viera de tão longe e, também por isso, merecedor de seu afecto, cuidado e doação!
          Mais tarde, aparentando total recuperação, voltou para bordo. Outro não menos sacrificado, perante o pessoal feminino, foi os Dr. pois ao saberem do seu ofício, passaram a solicitar, com repetida frequência apoio sanitário, proporcionando-lhe a alegria de se sentir realizado mesmo tão longe da sua terra! Para conhecer Fortaleza não chega fazer prolongadas leituras ou escutar elaboradas descrições, é preciso ir lá, pisar no terreno, pôr o dedo! No dia seguinte, domingo, juntamente com o Imediato e mais dois Oficiais, e pela mão do nosso companheiro de Arganil, participámos na missa de sétimo dia de um português onde apresentámos sentidos pêsames à viúva que agradeceu comovida.
          De tarde o navio ficou aberto a visitas. Já se sentia a partida, prevista para terça de manhã, 6OUT, e todos queriam aproveitar o melhor possível o tempo de que ainda dispunham junto dos amigos. O “S. Miguel” estava em “ebulição”. Havia movimento de pessoas por todo o navio. Eram risos, conversas ruidosas, gente percorrendo todo o navio, grupos encostados à borda conversavam ou permaneciam nas câmaras que tinham eleito como um espaço seu!
          A meio da tarde estava sozinho na camarinha a escrever quando percebi que alguém parara junto à porta. Olhei e vejo uma rapariga de cabelos soltos, uma cara linda onde sobressaiam, num meigo sorriso, dois grandes olhos, um casaco de peles e dois sapatos de salto alto. Esperou que eu a fixasse bem e então, segura de que tinha toda a minha atenção, mantendo o doce sorriso, segura nas lapelas do casaco que abre lentamente apoiando os braços no quadro da porta mostrando-se toda nua, em pelo, perdão sem pelo, dizendo num tom musical e numa pose estudada:
- “Meu anjo… chêguei…!”, enquanto rolava os olhos pestanudos, sorrindo sempre. Olhei-a de alto a baixo ou de baixo ao alto, para o caso não interessa, e deu para ver que ainda tinha umbigo! Que corpo e em 3D! Parecia que tudo girava à volta dela! Impaciente perante a minha mudez meneou o corpo parecendo irradiar um calor que ocupava por igual toda a camarinha.
          Então “corajosamente” disse:
- “Não é aqui, é lá em baixo…”, enquanto apontava com a caneta para o “andar” de baixo.
        Reconhecida fez novo sorriso, bamboleou-se “suspensa” nos braços que se mantinham encostados à ombreira da porta, mostrando generosamente tudo o que tinha, respondendo então, na tal voz maviosa:
- “Nos vemos… Tá…”, enquanto vagarosamente tirava os braços da porta e à vez foi fechando o casaco, talvez de marta, sempre sorrindo e mantendo aquele olhar hipnótico. Limitei-me a dizer um sumido:
- “…Tá”.
          Deu a volta e sumiu! Nunca falei a bordo do sucedido e nunca entendi qualquer referencia que me permitisse ligar alguém ao ocorrido, até hoje, não identificando os possíveis “construtores” de tal aparição que, tenho a certeza, fora encomendada! De qualquer modo obrigado pela intenção! Eram tempos conturbados, não haja dúvidas! Em todas as viagens costumava trazer para a minha mulher e para os meus filhos algumas lembranças.
          Os miúdos normalmente agradeciam entusiasmados e gratos mas a minha mulher raramente ficava satisfeita não pela qualidade ou quantidade mas pela escolha e tipo de lembrança. Era desencorajador. Apesar das explicações… Com esta ideia a martirizar-me fui ao Mercado do Artesanato mas nunca decidi o que trazer apesar da diversidade de produtos disponíveis.
          Em cima da hora só tinha comprado a tradicional “Rede”, hoje ainda guardada na gaveta (!), e não vislumbrava solução. Foi então que me lembrei de pedir aos Oficiais o favor de me comprarem uma lembrança para oferecer à minha mulher dando-lhes a conhecer a razão de tal pedido. Aceite a minha solicitação entreguei dinheiro a cada um deles, alertando-os para a necessária contenção nos gastos e incentivando-os a capricharem na escolha pois desejava “brilhar” quando chegasse a casa.
          À noite recebi as encomendas e o troco! Nem as vi. Limitei-me a guardá-las e a ouvir as justificações dos meus “colaboradores”. Chegado a Lisboa fiz a entrega da forma mais informal que consegui. Surpresa total! A minha mulher nem queria acreditar que eu tivera o cuidado de fazer aquelas compras para ela! Lembro-me que havia uma camisa de linho, uma colcha, uma toalha de linho toda trabalhada e mais alguns “artesanatos” que acertaram no “20”!
          Ainda hoje quando se fala dessa viagem a minha mulher refere do inesperado das lembranças que lhe trouxe e da alegria que lhe proporcionara. Conta também da insegurança sentida pois interiorizara que afinal não me conhecia tão bem como julgava o que se fora traduzindo, por algum tempo numa situação angustiante. Quando mais tarde e por acaso referi a forma como as “escolhi” respirou de alívio e… “Huf!” com um beijo voltou a agradecer-me as ofertas e agora sim, com o sentimento antigo, de que o “seu” poder, pelo que de mim conhecia, nada fora beliscado ou diminuído…
         A todos, que continuam bem presentes no meu coração, e em especial aos meus “colaboradores” um permanente e saudoso abraço.

REVISTA O DESEMBARQUE N.º 20 DA ASSOCIAÇÃO DE FUZILEIROS

EXERCÍCIOS ANFÍBIOS DOS FUZILEIROS DA SÉRIE GALERA NOS ANOS 80 E 90

          Inseri no canal de youtube deste blogue uma compilação de fotos de antigos exercícios anfíbios dos Fuzileiros Portugueses da série "GALERA", realizados nos anos 80 e 90 em Portugal e na ilha da Sardenha - Itália, nomeadamente com os USMC - Fuzileiros Norte-americanos.
          Eis, assim, um pequeno tributo a estas gerações de Fuzileiros da Marinha de Guerra Portuguesa!
          Um especial agradecimento aos Fuzileiros que cederam e reuniram as fotos.
 

HISTÓRIA À VISTA - 38

          HISTÓRIA À VISTA N.º 38, da autoria do SAJ REF de Manobra Bernardino da Silva Torres (248650) de 86 anos, então conhecido por Cabo Silva, primeiro Patrão da LDM 404 “CHIPA”.
          Em Outubro de 1964 fui destacado pelo Comando para a guerra de Moçambique e nomeado como Patrão da Lancha de Desembarque Média LDM 404 para o Lago de Niassa, faziam parte da guarnição desta lancha 01 Cabo, 02 Condutores de Máquinas, 01 Marinheiro Artilheiro e 01 Marinheiro Telegrafista.
         A lancha e a guarnição embarcaram no navio-mercante misto “Beira”, misto porque era de carga e passageiros, ao fim de 28 dias de navegação chegou-se a Lourenço Marques onde desembarcou a guarnição e a referida lancha LDM 404.
         Aqui embarcaram várias entidades para apreciarem a lancha a navegar por vários sítios da Baía de Lourenço Marques, daqui foi a reboque de uma Fragata com destino ao Chinde, depois foi rebocada de novo para a ilha de Moçambique e no Lumbo embarcou com a sua guarnição numa plataforma de comboio que ao longo do percurso demorou a chegar ao Catur 20 dias.
          Ao longo da linha havia várias pontes e como a lancha era mais larga que as referidas, tinha-se que fazer manobras por forma a pô-la mais alta para atravessar as referidas pontes. Durante o percurso foi acompanhada por um Pelotão de soldados para a sua segurança.
          Depois de chegar ao Catur, onde acabava a linha férrea, foi colocada em cima de um camião, no seu percurso em duas curvas muito fechadas a lancha e o camião viraram-se, com muitos sacrifícios foi colocada de modo a prosseguir a sua viagem.
          Ao longo do caminho rebentaram minas que fizeram com que a lancha não prosseguisse, mas com todas as dificuldades lá conseguimos chegar ao Lago Niassa. Foi lançada à água e prossegui a sua viagem até Metangula onde estava o Comando de Defesa Marítima dos Portos do Lago Niassa.
          Ao longo de meses transportou-se Fuzileiros, Companhias do Exército e foram feitas várias missões ao longo da costa do Lago Niassa, por vezes faziam-se com grandes dificuldades pelo motivo de se formarem altas vagas de 4 e 5 metros de altura.
          Mais tarde a lancha LDM 404 foi transformada em lancha de carga, sendo pintada de verde, foi colocada uma cobertura no poço para transporte de gasóleo. A sua guarnição passou de militar para civil, trabalhando para a firma SONAREP, de onde este combustível era transportado do Malawi.
          A guarnição tinha cédulas marítimas, a 1ª viagem de Metangula foi realizada às 10 horas da noite, chegou-se ao destino no Malawi a 01 hora da tarde, logo a chegada estavam muitas pessoas a sua espera, incluindo autoridades fiscais que a revistaram.

NÚCLEO MUSEOLÓGICO DE VIATURAS ANTIGAS DA MARINHA

          A DT - Direcção de Transportes da Marinha de Guerra Portuguesa criou o designado "Núcleo Museológico de Viaturas Antigas da Marinha" em 2001, aquando da transferência para as novas instalações, contando com uma fabulosa colecção de 13 viaturas antigas que em tempos fizeram parte do efectivo activo da Armada.
          Actualmente participam em desfiles e concentrações de viaturas antigas, representando a Briosa, a par de eventos como o "Dia da Marinha" e "Dia da Unidade (da própria DT)", tendo a particularidade de se deslocarem sempre pelos próprios meios!
          Já participaram no "Dia da Marinha 2012", em Maio de 2013 estiveram numa exposição na Quinta da Marialva - Corroios, no dia 20 de Setembro de 2014 estiveram presentes com 09 viaturas no V Desfile “Veículos com História” organizado pela Comissão de Festas de N.ª Sr.ª do Cabo Espichel, de S. Pedro de Penaferrim - Sintra e, mais recentemente encontra-se uma Mercedes Unimog 411 da DT ladeado por 02 Mercedes G do Corpo de Fuzileiros a marcar presença numa exposição do recém inaugurado Classic Center da Mercedes-Benz Portugal, Abrunheira - Sintra.
          Futuramente está previsto estarem em exposição estática no "Dia da Marinha 2015".
 
As viaturas que compõe o "Núcleo Museológico de Viaturas Antigas da Marinha" são:
- AP-05-26 CHEVROLET modelo LORDMASTER do ano de 1948


Como principais características refere se o seu motor de 3515 centímetros cúbicos de cilindrada a gasolina, com 90 cavalos de potência.
Esta viatura destaca-se pela sua representatividade e pelo papel que desempenhou na Marinha como viatura de instrução de pesados de passageiros, na Escola de Máquinas.
Esteve ao serviço do então Grupo N.º 2 de Escolas da Armada e da DT, mantendo-se ao serviço até 1983.
 
- AP-20-97 DODGE WC5I do ano de 1954.

Designado pelas forças militares portuguesas durante a Guerra Colonial por "Jipão".
Sendo uma viatura com tracção às 4 rodas está equipada com um motor Chrysler T-214 a gasolina de 2302 centímetros cúbicos de cilindrada com 93 cavalos de potência, que esteve ao serviço do Comando da Defesa Marítima do Porto de Leixões, aí se mantendo ao serviço até 2001.
Este tipo de viatura foi muito utilizado durante a 2.ª Guerra Mundial pelo Exército Norte-americano.
O Exército Português também utilizou este tipo de viatura durante a Guerra do Ultramar.
 
- AP-07-79 MERCEDES BENZ modelo 300 SL Automatic de 1961.

Equipa esta viatura de caixa automática um motor a gasolina de 180 cavalos de potência.
Esteve ao serviço do Gabinete do Ministro da Marinha, do Gabinete do ALM CEMA, da BNL e da Direcção de Abastecimento.
No ano de 2001, quando a DT passou a ocupar as actuais instalações, esta viatura integrou o seu Núcleo Museológico.
 
- AP-07-34 JEEP WILLIS modelo CJ 3B do ano de 1961.

Está equipada com um motor a gasolina de 2199 centímetros cúbicos de cilindrada.
Refere-se que a 1.ª configuração do Jeep Willys remonta ao tempo da 2.ª Guerra Mundial, sendo trazida para a Europa pelo Exército Norte-americano.
Esteve ao serviço do então Grupo N.º 1 de Escolas da Armada e da Escola de Fuzileiros.
 
- AP-10-90 MERCEDES BENZ modelo 300 SEL do ano de 1967.

Equipada com um motor a gasolina de 2996 centímetros cúbicos de cilindrada, esta viatura esteve sempre atribuída à DT para o transporte de Oficiais Generais, tendo apenas sido retirada ao efectivo da Marinha no ano de 2000.
 
- AP-31-45 VOLKSWAGEN do ano de 1969.

Versão ambulância do vulgarmente conhecido “Pão de Forma”.
Como principais características realça-se o seu motor a gasolina com 1584 centímetros cúbicos de cilindrada.
Esteve ao serviço do Arsenal do Alfeite até 2009.
 
- AP-14-55 MERCEDES BENZ modelo 230 LONG de 1970.

Como principais características realça-se o motor a gasolina de 2293 centímetros cúbicos de cilindrada.
Esta viatura esteve igualmente sempre atribuída à DT para o transporte de Oficiais Generais tendo também ela sido retirada ao efectivo da Marinha no ano de 2000.
 
- AP-16-11 MERCEDES Unimog 411 de 1970.

Alcunhado pelas forças militares portuguesas durante a Guerra Colonial por "Burro do Mato".
Restantes dados em actualização.
 
- AP-02-00 Mota BMW modelo R.50/5 de 1971.

De 2 cilindros e um motor a gasolina de 494 Centímetros cúbicos e potência de 35 cavalos, esteve ao serviço da Base Naval de Lisboa, Comando do Corpo de Fuzileiros e do então Grupo N.º 1 de Escolas da Armada.
Esta mota é também ela um símbolo deste Núcleo Museológico, com profundo significado pela sua ligação à instrução de veículos ligeiros de duas rodas.
 
- AP-18-49 VOLKSWAGEN 1300 S de 1974.

Popularmente conhecido por Volkswagen “Carocha”.
Equipada com um motor a gasolina de 1285 centímetros cúbicos de cilindrada e com 44 cavalos de potência, esta viatura esteve ao serviço da Escola de Fuzileiros até 2001, fazendo agora parte do Núcleo Museológico.
 
- AP-19-99 INTERNACIONAL modelo HARVESTER LOADSTAR 1700 4x4 de 1976.

Equipada com um motor a gasolina de 5700 centímetros cúbicos de cilindrada tendo 210 cavalos de potência.
Tratando-se de um auto-tanque, o seu principal papel na área da limitação de avarias destinava-se ao combate a incêndios.
Esteve ao serviço no depósito de munições NATO de Lisboa, foi retirada do serviço em 2002.
 
- MERCEDES Unimog 416 de 1979.

Dados em actualização.
Encontra-se de momento em reparação.
 
- AP-01-23 Scooter VESPA.

Dados em actualização.

10 DE JUNHO DE 2015

LANÇAMENTO DE LIVRO

LEITURAS À VISTA - 06

          Para esta 6.ª “LEITURA À VISTA”, recomendo o livro: "Memórias de um guerreiro colonial", redigido pelo SMOR FZE José Gomes Talhadas.
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
          «A GUERRA COLONIAL ainda hoje é contada, publicamente, sobre a perspectiva dos seus Oficiais e chefes militares, mesmo quando transcrita em livros de ficção. Pouco tem sido relatado ou reportado por aqueles que, embora sendo o essencial da sua componente humana, constituíram o chamado "pessoal" normal, vulgar.
          Daí, na maior parte das vezes, menosprezado. Iremos dar uma volta ao tema. O objectivo desta colecção é, precisamente, dar voz aos que, tendo algo para contar, se refugiaram sempre na dificuldade de expor, de escrever, ou de serem pessoas "sem importância" no que se passou. As suas histórias e estórias deles são essenciais, no entanto, para se formar a História da Guerra Colonial.
          Queremos que sejam eles a dar a sua versão, a sua visão, que tantas vezes se tornam uma preciosidade de memória de grande relevância, mas que, ao longo destes mais de 35 anos, têm ficado retidas apenas nos pensamentos íntimos de cada um.
          Vamos fazer um esforço para que os relatos ou as memórias da Guerra Colonial se tornem mais democráticas e sirvam para dar a conhecer, na sua singeleza, às gerações vindouras uma saga que mobilizou, directamente, mais de um milhão de portugueses e atingiu os restantes nove milhões. Um convite está lançado aos que guardam recordações ou memórias na consciência ou baús: transformem-nas em escrita».

FOTOS DO DIA NACIONAL DOS CADETES DAS ESCOLAS DE PORTUGAL 2015

XIX EXPOSIÇÃO ANUAL DE MODELISMO

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