18.ª “HISTÓRIA À VISTA”, no formato de Resenha Histórica do percurso profissional do CMG REF Metelo de Nápoles.
A saída da Escola Naval, como Guarda-Marinha, exercia as funções de Imediato e Chefe dos Serviços do Patrulha de Fiscalização de pesca N.R.P. (Navio da República Portuguesa) “DOURADA”.
Ainda como Guarda-Marinha desempenhei as funções de Imediato e Chefe de todos os serviços de bordo, dos Draga-Minas “Santa Cruz” e “Lagoa”.
E posteriormente como 2.º Tenente, Imediato do agrupamento de Draga-Minas “Lagoa” e “Rosário”. Ainda como 2.º Tenente embarquei no N.R.P. “Bartolomeu Dias” (navio de 1.ª classe), como Chefe de Serviço de Navegação, na Índia Portuguesa. Ainda na Índia comandei a Lancha de Fiscalização “Vega”.
Ao regressar ao continente fui novamente Chefe do Serviço de Navegação do navio “Bartolomeu Dias”. O N.R.P. “Bartolomeu Dias” liderou no terminus da viagem de regresso a Lisboa uma frota de cerca de 60 navios, de várias nacionalidades, nas comemorações Henriquinas, no continente.
Como 1.º Tenente fui Imediato do Destroyer “Lima”. Ainda como 1.º Tenente, fui nomeado para tirar os cursos de Comunicações e posteriormente o de Fuzileiro Especial.
Concluí este 2.º curso com a prova de 50 km, com 10 km de corta-mato, o que concluí em 7 horas, tendo sido até àquela data o único Oficial que concluiu esta prova dentro do controlo estabelecido. Fui Instrutor-chefe de um curso de Fuzileiros Especiais.
Com a antecedência de uma semana, já casado, e com um filho de 1 ano, fui nomeado para comandar o Destacamento de Fuzileiros Especiais n.º 9.
Embarcamos em Fevereiro de 1964, em Lisboa, a bordo da N.R.P. “São Gabriel” e regressámos em Fevereiro de 1966, a bordo de uma Fragata.
Nos postos de 1.º Tenente e Capitão-Tenente tirei a licenciatura em “Ciências Políticas e Socias” com 14 valores, o que contribuiu para que em Capitão-de-Mar-e-Guerra, tivesse desempenhado as funções de Professor de Psicologia do Instituto Superior Naval de Guerra, durante alguns anos.
Comissão de 2 anos na Guiné:
O meu Destacamento de Fuzileiros Especiais n.º 9, desenvolveu na Guiné uma espinhosas missões, que mereceram generosos louvores dos saudosos Comandantes da Defesa Marítima da Guiné, do Comandante em Chefe das Forças Armadas da Guiné e do Chefe de Estado-Maior da Armada. A nossa aturada operacionalidade conduziu aos seguintes resultados:
• Tipos de Operações:
- 09 Golpes de Mão
- 17 Ataques em força
- 04 Reconhecimentos
- 07 Batidas
- 05 Emboscadas
- 01 Rusgas
- 01 Apoios
Total 44
Do Destacamento fizeram parte 03 Oficiais, 08 Sargentos, 09 Cabos, 10 Marinheiros e 59 Grumetes. A dotação do Destacamento era apenas de 03 Oficiais, 06 Sargentos e 66 Praças, num total de 75 homens, mas as baixas devidas a falecimentos ou evacuações para Lisboa obrigaram a substituições.
• Resultados:
- 43 Inimigos abatidos armados confirmados
- 09 Inimigos feridos confirmados
- 04 Prisioneiros IN
- 191 Casas de acampamentos IN destruídos
• Armamento destruído:
- 198 Embarcações destruídas ou apreendidas
- 01 Paiol de munições e armamento diverso
- Centenas de Munições
• Armamento apreendido:
- 01 Metralhadoras-pesadas anti-aérea
- 01 Metralhadoras-ligeiras
- 07 Espingardas
- 01 Espingarda metralhadora
- 07 Pistolas
- 49 Granadas de mão
- 06 Sabres
- 01 Cunhete de fitas de 50 munições M.P. 12,7mm
• Outro material de especial significado:
- Carregadores diversos, Cunhetes metálicos de munições, Minas anti-pessoal, Binóculos de tiro, Carga de demolição, Fardas, Cartucheiras, Ferramentas e sobressalentes de armas.
• Fiscalização:
- 2.236 horas de Patrulha nas L.D.’s (Lanchas de desembarque)
- 883 horas de Patrulha em botes
- 254 horas de emboscadas
- 59 de acções de fogo
• Dados Gerais:
- 69 Média de homens/dias prontos
- 15 Homens evacuados para Lisboa
- 03 Mortos em combate
- 01 Morto por acidente
- 09 Feridos por acidente
- 22 Feridos em combate
• Recompensas:
- 01 Medalha de Valor Militar (prata)
- 01 Medalha de Valor Militar (cobre)
- 09 Medalhas Cruzes de Guerra
- 01 Medalha Serviços Distintos com Palma
- 02 Medalhas Mérito Militar
- 03 Louvores colectivos
- 40 Louvores individuais
- 01 Pensão por serviços excepcionais e relevantes, prestados ao País
Eu tinha 30 anos, e era o mais velho, quando a idade dos Grumetes se situava entre os 17 e os 22 anos. Era uma equipa jovem, coesa, moralizada, bem treinada e com elevado poder de combate.
Na zona Sul, especialmente na mata de Cantanhês, onde um Batalhão do Exército não conseguiu entrar, em determinado momento, efectuámos 09 operações de combate.
Na zona do Cantanhês, o inimigo revelava-se forte, bem armado e determinado e com centenas de guerrilheiros. Algumas vezes actuávamos com dificuldade, devido à sua resistência, salvo as raras ocasiões em que o chefe Nino estava ausente, em que tal oposição enfraquecia. No entanto, entrámos várias vezes na mata, tendo-o atravessando uma vez do Rio Cumbidjâ para o Rio Cacine.
Numa operação em Cafine, local tradicionalmente difícil, abatemos 12 guerrilheiros. Mas aí perdemos 1 homem, atingido por uma granada de bazuca, por sinal especialmente querido do Destacamento, o que afectou a moral de muitos homens.
Na zona de Quitafine a Leste do Rio Cacine, os guerrilheiros estavam também agressivos, bem armados, certamente porque estavam próximos da fronteira com a Guiné-Conacry, que apoiava a guerrilha, como intermediário do apoio de armas vindas da União Soviética.
As missões de fiscalização dos rios Mansoa, Geba, Corubal, Cumbidjâ e Cacine, ofereciam perigosidade diferente, destacando-se nesse sentido o Cumbidjâ a Sul, onde surgiam emboscadas nas margens.
No período da nossa comissão, de Fevereiro de 1964 a Fevereiro de 1966, a aviação ainda se movimentava com relativa facilidade, embora vários aviões de reconhecimento tivessem sido atingidos por tiros de espingarda ou metralhadora. Que o confirme o Almirante Castanho Pães, nessa altura 2.º Tenente, que voava ao meu lado, em reconhecimento aéreo e que foi atingido com uma bala numa perna.
A situação de guerra a Norte do Rio Geba reduzia-se a fracos e esporádicos contactos de fogo, com pequenos grupos inimigos.
Sobre os homens que comandei, creio que já exprimi o meu sentimento anteriormente, mas não é demais dizer que pelas suas generosas qualidades, de valentia e de disciplina, facilitaram a minha actuação e foi o Comando que mais me marcou e honrou na minha carreira na Marinha.
Comandar tais homens, em frequentes situações de combate, é algo que me transcende e que me deixou ligado aos Fuzileiros como um “cordão umbilical”!
E no entanto, poderei dizer que a Marinha me chamou em quase toda a minha carreira, para funções de Comando, como foi o caso de:
- Chefe do Serviço de Navegação do N.R.P. “Bartolomeu Dias” em comissão na India 1958/59.
- Comandante da Lancha de Fiscalização “Veja”, em Goa, em 1960.
- Comandante da Escola de Fuzileiros.
- Comandante da Fragata “Pereira da Silva”.
- Director da Escola de Comunicações.
- Vogal da Comissão de Investigação no Comportamento Político de alguns Oficiais, Comandantes de algumas unidades navais, nos acontecimentos do 25 de Novembro de 1975.
- Subchefe do Estado-Maior e Chefe da Divisão de Operações em Cabo Verde.
- Comandante do Destacamento de Fuzileiros Especiais n.º 9 na Guiné.
- Comandante do N.R.P. “Santa Maria”.
- Comandante do N.R.P. “Faial”.
- Comandante da Unidade de Apoio aos Organismos da Administração Central da Marinha.
- Comandante da Zona Marítima do Sul, Capitão do Porto de Faro e Chefe de Departamento da Zona Marítima do Algarve. E, por inerência, vogal da Junta Autónoma dos Portos e da Junta de Turismo do Algarve, entre Junho de 1983 e Junho de 1985, altura em que foi necessário revitalizar a autoridade Marítima, no mar e em terra.
- Comandante da Flotilha de Patrulhas.
- E por fim, Comandante do Grupo Operacional, no exercício “CONTEX-PHIBEX”, constituído por 01 Fragata, 01 Corveta e 01 Batalhão de Fuzileiros equipado com Lanchas de Desembarque e botes de borracha.
No mar, foram apresados diversos arrastões de pesca espanhóis, que pescavam nas nossas águas. E quando terminei a comissão em Faro, ainda lá ficaram 05 arrastões espanhóis apresados, pelos nossos Navios-Patrulhas, fruto de trabalho aturado no mar, pela dedicação, pela competência das suas guarnições e de briosos Comandantes.
E em terra, mandei destruir cerca de 300 construções clandestinas, em grande parte nas ilhas barreiras da Ria Formosa, na zona do Domínio Público Marítimo.
E por tal facto, houve uma manifestação em Faro, com cerca de 5.000 pessoas e com o Presidente da Câmara à cabeça, Professor Negrão Belo, percorrendo as ruas da baixa da cidade, até junto da C.M. Faro, onde discursaram contra a Autoridade Marítima e em particular contra o Capitão do Porto de Faro.
Nessa manifestação junto da Câmara Municipal de Faro, eu estive presente, embora disfarçado, para ouvir os discursos! E outra manifestação em Olhão com aproximadamente o mesmo número de pessoas e os mesmos temas, igualmente contra a Autoridade Marítima e em especial contra o Capitão do Porto de Faro, com discursos vários, incluindo o do Presidente da Câmara de Olhão, Senhor Bonança.
Em simultâneo, imensas paredes em Faro, apareceram com insultos à minha pessoa, para defesa das suas casas clandestinas, nas praias de todos nós.
Em todo o caso, tive o prazer de ouvir, na presença de ilustres pessoas, quando da inauguração da reitoria da Universidade do Algarve, palavras elogiosas do Senhor General Eanes, então Presidente da República, que considerou a minha acção importante, não só para a revitalização da Autoridade Marítima no Algarve, mas também a nível nacional, para cumprimento da lei.
A Marinha que também amo, deu-me por exemplo a enorme satisfação de comandar uma Fragata integrada durante cerca de 04 meses na esquadra da NATO (STANAVFORLANT), do que guardo boas recordações e em especial do intenso treino de mar, parecido com o que será em tempo de guerra, sobre o comportamento do navio e da sua guarnição, em 24 horas, sobre 24 horas, em vários dias no mar.
E impõe-se uma palavra de louvor à briosa, disciplinada e competente guarnição, da qual fez parte a 1.º Tenente Melo Gomes, distinto Chefe do Serviço de Operações, actual Almirante, ex. Chefe do Estado-Maior da Armada, a quem por minha proposta lhe foi atribuída uma Medalha de Mérito Militar, pela sua elevada competência, brio e dedicação, que muito contribuiu para que o Comandante da Esquadra, Comodoro Gordon Edwards, tivesse reconhecido em louvor escrito, o reconhecimento pelo brilhante desempenho das missões operacionais da Fragata portuguesa.
Destaco na minha memória um homem que bem merecia que o seu nome figurasse numa lápide na Escola de Fuzileiros: Eduardo Henriques Pereira, um rapaz bem desenvolto e de cabeça erguida, que nada temia, mesmo em combate.
E porque era meu “ordenança” algumas vezes me zanguei, porque ao soarem os tiros do inimigo, o Ericeira esquecia tudo e corria disparando a espingarda e por vezes a metralhadora na direcção dos guerrilheiros. O Ericeira era uma força da Natureza!
Mas sobre o “Ericeira” já escrevi um artigo, nos Anais do Clube Militar Naval, correspondente a Janeiro a Março de 1971 o que felizmente contribuiu para que a rua principal da Ericeira, homenageie o Eduardo Henriques Pereira, com o seu nome! Era valente!
E aproveito para tornar público que em Angola entrou numa palhota em chamas, donde retirou uma criança com vida. E igualmente lembro que num Rio do Leste de Angola, num bote de borracha em patrulha, foi baleado, tendo morrido alguns Fuzileiros e escapou com vida, mas com várias balas, o Tenente Sarmento, da Reserva Naval, porque o Ericeira pegou numa G3 com uma mão e com a outra manobrou o motor do bote, que lançou para a margem do rio, donde vinham os tiros e fazendo fogo, conseguiu afugentar os guerrilheiros! Como diria Camões: “Bem dita Pátria que tais filhos tem!
Fui nomeado para tirar o curso de Fuzileiro Especial. E posteriormente para comandar o D.F.E. 9 (Destacamento de Fuzileiros Especiais n.º 9), porque 3 Oficiais, antes da minha nomeação, escusaram-se, alegando problemas de saúde!
Fui nomeado 8 dias antes de embarcar em Lisboa no N.R.P. “São Gabriel”. E tudo encarei com normalidade, por dever de ofício! Afinal, esses Oficiais nem sabem a honra que perderam!
Os Fuzileiros são um braço importante da Marinha, para o desempenho das suas missões. Os Fuzileiros são o único órgão da Marinha que nunca se esquece de me convidar para as cerimónias comemorativas, o que aceito com prazer. Pela minha parte creio, que já exprimi bem o enorme orgulho que sinto em ter servido a Marinha como Fuzileiro.
Associação de Fuzileiros:
Em 26 de Fevereiro de 2000, a lista de que fazia parte, foi eleita com cerca de 70% dos votos, em relação à outra lista, na qual se situavam pessoas notáveis, pelo que me senti orgulhoso e por outro lado com a obrigação de me dedicar às minhas tarefas. Por isso acompanhei quase todas as reuniões da Comissão Executiva e normalmente intervim, juntando a minha opinião.
A minha intervenção foi maior no 2.º mandato, para o qual foi eleita a minha lista, com elevada votação, embora como lista única. E digo que actuei mais nas reuniões do 2.º mandato, porque tivemos vários desgostos.
- Assim, o Presidente da Comissão Executiva teve um acidente vascular, do que resultou uma grande incapacidade.
- Perdemos por falecimento um vogal que era um grande valor da Comissão Executiva.
- A um outro vogal da C.E. foi amputado um pé, por motivos de saúde.
No 1.º e 2.º mandatos efectuámos várias Assembleias-Gerais, muito participadas, para discutirmos e aprovarmos os seguintes importantíssimos documentos, para darmos vida jurídica à Associação:
- Estatutos da Associação de Fuzileiros.
- Regulamento Eleitoral da Associação de Fuzileiros.
- Regulamento Interno da Associação de Fuzileiros.
- Escolha do Logótipo e do estandarte da Associação.
Estas assembleias foram demoradas e muito participadas, o que valorizou aqueles documentos. Recusei candidatar-me a 3.º mandato, embora tenha sido convidado para tal missão.
Vem a propósito dizer que tive o imenso prazer em subscrever, juntamente com o Comdt. Salgado Soares e o Senhor Secretário da Defesa e dos Antigos Combatentes, Dr. Henrique Rocha de Freitas, com a presença do Almirante CEMA e com uma certa pompa, o protocolo que cedeu à Associação de Fuzileiros uma grande parte da Delegação Marítima do Barreiro.
Rotários: Durante 23 anos fui rotário, com diversas funções, até a de Presidente.
Empresa:
Em 1987 passei à Reserva da Armada, a meu pedido. Passei a exercer a gerência de um armazém de Distribuição por Grosso, de medicamentos, especialmente virado para a exportação, mas também com atividade a nível nacional.
Em Maio do ano passado, mudei as instalações de um armazém antigo na Brandoa, para um pavilhão moderno no Cacém com cerca de 500 m2 de área coberta, que adquiri em novo, com 2 Robot´s com cerca de 8,5 m de altura, comandados informaticamente.
Por proposta do Supremo Tribunal Militar e despacho conjunto dos Ministros das Finanças e do 1.º Ministro, foi-me atribuída a pensão por serviços excepcionais e relevantes prestados ao País.
E dado que me alonguei em considerações, informo também as condecorações que me foram atribuídas:
- Insígnias de Torre e Espada colectiva.
- Pensão por serviço relevante prestado ao País.
- Cruz de Guerra de 1.ª Classe.
- Medalha de Serviços distintos, Prata, com palma.
- Medalha de Serviços distintos, Prata.
- Medalha de Mérito Militar de 1.ª classe.
- Medalha de Mérito Militar de 2.ª classe.
- Medalha de comportamento exemplar, Prata.
- Medalha das Campanhas, com as legendas 1958/60 Índia; Guiné 1964-66.
- Medalha das expedições com a legenda: Cabo Verde 1972/74.
- 1 Medalha do Infante D. Henrique.
- 14 Louvores individuais e diversos colectivos.
Eu amo a Marinha e adoro os Fuzileiros.
Horácio G. Metelo de Nápoles
Capitão de Mar-e-Guerra (Ref.)
Ainda como Guarda-Marinha desempenhei as funções de Imediato e Chefe de todos os serviços de bordo, dos Draga-Minas “Santa Cruz” e “Lagoa”.
E posteriormente como 2.º Tenente, Imediato do agrupamento de Draga-Minas “Lagoa” e “Rosário”. Ainda como 2.º Tenente embarquei no N.R.P. “Bartolomeu Dias” (navio de 1.ª classe), como Chefe de Serviço de Navegação, na Índia Portuguesa. Ainda na Índia comandei a Lancha de Fiscalização “Vega”.
Ao regressar ao continente fui novamente Chefe do Serviço de Navegação do navio “Bartolomeu Dias”. O N.R.P. “Bartolomeu Dias” liderou no terminus da viagem de regresso a Lisboa uma frota de cerca de 60 navios, de várias nacionalidades, nas comemorações Henriquinas, no continente.
Como 1.º Tenente fui Imediato do Destroyer “Lima”. Ainda como 1.º Tenente, fui nomeado para tirar os cursos de Comunicações e posteriormente o de Fuzileiro Especial.
Concluí este 2.º curso com a prova de 50 km, com 10 km de corta-mato, o que concluí em 7 horas, tendo sido até àquela data o único Oficial que concluiu esta prova dentro do controlo estabelecido. Fui Instrutor-chefe de um curso de Fuzileiros Especiais.
Com a antecedência de uma semana, já casado, e com um filho de 1 ano, fui nomeado para comandar o Destacamento de Fuzileiros Especiais n.º 9.
Embarcamos em Fevereiro de 1964, em Lisboa, a bordo da N.R.P. “São Gabriel” e regressámos em Fevereiro de 1966, a bordo de uma Fragata.
Nos postos de 1.º Tenente e Capitão-Tenente tirei a licenciatura em “Ciências Políticas e Socias” com 14 valores, o que contribuiu para que em Capitão-de-Mar-e-Guerra, tivesse desempenhado as funções de Professor de Psicologia do Instituto Superior Naval de Guerra, durante alguns anos.
Comissão de 2 anos na Guiné:
O meu Destacamento de Fuzileiros Especiais n.º 9, desenvolveu na Guiné uma espinhosas missões, que mereceram generosos louvores dos saudosos Comandantes da Defesa Marítima da Guiné, do Comandante em Chefe das Forças Armadas da Guiné e do Chefe de Estado-Maior da Armada. A nossa aturada operacionalidade conduziu aos seguintes resultados:
• Tipos de Operações:
- 09 Golpes de Mão
- 17 Ataques em força
- 04 Reconhecimentos
- 07 Batidas
- 05 Emboscadas
- 01 Rusgas
- 01 Apoios
Total 44
Do Destacamento fizeram parte 03 Oficiais, 08 Sargentos, 09 Cabos, 10 Marinheiros e 59 Grumetes. A dotação do Destacamento era apenas de 03 Oficiais, 06 Sargentos e 66 Praças, num total de 75 homens, mas as baixas devidas a falecimentos ou evacuações para Lisboa obrigaram a substituições.
• Resultados:
- 43 Inimigos abatidos armados confirmados
- 09 Inimigos feridos confirmados
- 04 Prisioneiros IN
- 191 Casas de acampamentos IN destruídos
• Armamento destruído:
- 198 Embarcações destruídas ou apreendidas
- 01 Paiol de munições e armamento diverso
- Centenas de Munições
• Armamento apreendido:
- 01 Metralhadoras-pesadas anti-aérea
- 01 Metralhadoras-ligeiras
- 07 Espingardas
- 01 Espingarda metralhadora
- 07 Pistolas
- 49 Granadas de mão
- 06 Sabres
- 01 Cunhete de fitas de 50 munições M.P. 12,7mm
• Outro material de especial significado:
- Carregadores diversos, Cunhetes metálicos de munições, Minas anti-pessoal, Binóculos de tiro, Carga de demolição, Fardas, Cartucheiras, Ferramentas e sobressalentes de armas.
• Fiscalização:
- 2.236 horas de Patrulha nas L.D.’s (Lanchas de desembarque)
- 883 horas de Patrulha em botes
- 254 horas de emboscadas
- 59 de acções de fogo
• Dados Gerais:
- 69 Média de homens/dias prontos
- 15 Homens evacuados para Lisboa
- 03 Mortos em combate
- 01 Morto por acidente
- 09 Feridos por acidente
- 22 Feridos em combate
• Recompensas:
- 01 Medalha de Valor Militar (prata)
- 01 Medalha de Valor Militar (cobre)
- 09 Medalhas Cruzes de Guerra
- 01 Medalha Serviços Distintos com Palma
- 02 Medalhas Mérito Militar
- 03 Louvores colectivos
- 40 Louvores individuais
- 01 Pensão por serviços excepcionais e relevantes, prestados ao País
Eu tinha 30 anos, e era o mais velho, quando a idade dos Grumetes se situava entre os 17 e os 22 anos. Era uma equipa jovem, coesa, moralizada, bem treinada e com elevado poder de combate.
Na zona Sul, especialmente na mata de Cantanhês, onde um Batalhão do Exército não conseguiu entrar, em determinado momento, efectuámos 09 operações de combate.
Na zona do Cantanhês, o inimigo revelava-se forte, bem armado e determinado e com centenas de guerrilheiros. Algumas vezes actuávamos com dificuldade, devido à sua resistência, salvo as raras ocasiões em que o chefe Nino estava ausente, em que tal oposição enfraquecia. No entanto, entrámos várias vezes na mata, tendo-o atravessando uma vez do Rio Cumbidjâ para o Rio Cacine.
Numa operação em Cafine, local tradicionalmente difícil, abatemos 12 guerrilheiros. Mas aí perdemos 1 homem, atingido por uma granada de bazuca, por sinal especialmente querido do Destacamento, o que afectou a moral de muitos homens.
Na zona de Quitafine a Leste do Rio Cacine, os guerrilheiros estavam também agressivos, bem armados, certamente porque estavam próximos da fronteira com a Guiné-Conacry, que apoiava a guerrilha, como intermediário do apoio de armas vindas da União Soviética.
As missões de fiscalização dos rios Mansoa, Geba, Corubal, Cumbidjâ e Cacine, ofereciam perigosidade diferente, destacando-se nesse sentido o Cumbidjâ a Sul, onde surgiam emboscadas nas margens.
No período da nossa comissão, de Fevereiro de 1964 a Fevereiro de 1966, a aviação ainda se movimentava com relativa facilidade, embora vários aviões de reconhecimento tivessem sido atingidos por tiros de espingarda ou metralhadora. Que o confirme o Almirante Castanho Pães, nessa altura 2.º Tenente, que voava ao meu lado, em reconhecimento aéreo e que foi atingido com uma bala numa perna.
A situação de guerra a Norte do Rio Geba reduzia-se a fracos e esporádicos contactos de fogo, com pequenos grupos inimigos.
Sobre os homens que comandei, creio que já exprimi o meu sentimento anteriormente, mas não é demais dizer que pelas suas generosas qualidades, de valentia e de disciplina, facilitaram a minha actuação e foi o Comando que mais me marcou e honrou na minha carreira na Marinha.
Comandar tais homens, em frequentes situações de combate, é algo que me transcende e que me deixou ligado aos Fuzileiros como um “cordão umbilical”!
E no entanto, poderei dizer que a Marinha me chamou em quase toda a minha carreira, para funções de Comando, como foi o caso de:
- Chefe do Serviço de Navegação do N.R.P. “Bartolomeu Dias” em comissão na India 1958/59.
- Comandante da Lancha de Fiscalização “Veja”, em Goa, em 1960.
- Comandante da Escola de Fuzileiros.
- Comandante da Fragata “Pereira da Silva”.
- Director da Escola de Comunicações.
- Vogal da Comissão de Investigação no Comportamento Político de alguns Oficiais, Comandantes de algumas unidades navais, nos acontecimentos do 25 de Novembro de 1975.
- Subchefe do Estado-Maior e Chefe da Divisão de Operações em Cabo Verde.
- Comandante do Destacamento de Fuzileiros Especiais n.º 9 na Guiné.
- Comandante do N.R.P. “Santa Maria”.
- Comandante do N.R.P. “Faial”.
- Comandante da Unidade de Apoio aos Organismos da Administração Central da Marinha.
- Comandante da Zona Marítima do Sul, Capitão do Porto de Faro e Chefe de Departamento da Zona Marítima do Algarve. E, por inerência, vogal da Junta Autónoma dos Portos e da Junta de Turismo do Algarve, entre Junho de 1983 e Junho de 1985, altura em que foi necessário revitalizar a autoridade Marítima, no mar e em terra.
- Comandante da Flotilha de Patrulhas.
- E por fim, Comandante do Grupo Operacional, no exercício “CONTEX-PHIBEX”, constituído por 01 Fragata, 01 Corveta e 01 Batalhão de Fuzileiros equipado com Lanchas de Desembarque e botes de borracha.
No mar, foram apresados diversos arrastões de pesca espanhóis, que pescavam nas nossas águas. E quando terminei a comissão em Faro, ainda lá ficaram 05 arrastões espanhóis apresados, pelos nossos Navios-Patrulhas, fruto de trabalho aturado no mar, pela dedicação, pela competência das suas guarnições e de briosos Comandantes.
E em terra, mandei destruir cerca de 300 construções clandestinas, em grande parte nas ilhas barreiras da Ria Formosa, na zona do Domínio Público Marítimo.
E por tal facto, houve uma manifestação em Faro, com cerca de 5.000 pessoas e com o Presidente da Câmara à cabeça, Professor Negrão Belo, percorrendo as ruas da baixa da cidade, até junto da C.M. Faro, onde discursaram contra a Autoridade Marítima e em particular contra o Capitão do Porto de Faro.
Nessa manifestação junto da Câmara Municipal de Faro, eu estive presente, embora disfarçado, para ouvir os discursos! E outra manifestação em Olhão com aproximadamente o mesmo número de pessoas e os mesmos temas, igualmente contra a Autoridade Marítima e em especial contra o Capitão do Porto de Faro, com discursos vários, incluindo o do Presidente da Câmara de Olhão, Senhor Bonança.
Em simultâneo, imensas paredes em Faro, apareceram com insultos à minha pessoa, para defesa das suas casas clandestinas, nas praias de todos nós.
Em todo o caso, tive o prazer de ouvir, na presença de ilustres pessoas, quando da inauguração da reitoria da Universidade do Algarve, palavras elogiosas do Senhor General Eanes, então Presidente da República, que considerou a minha acção importante, não só para a revitalização da Autoridade Marítima no Algarve, mas também a nível nacional, para cumprimento da lei.
A Marinha que também amo, deu-me por exemplo a enorme satisfação de comandar uma Fragata integrada durante cerca de 04 meses na esquadra da NATO (STANAVFORLANT), do que guardo boas recordações e em especial do intenso treino de mar, parecido com o que será em tempo de guerra, sobre o comportamento do navio e da sua guarnição, em 24 horas, sobre 24 horas, em vários dias no mar.
E impõe-se uma palavra de louvor à briosa, disciplinada e competente guarnição, da qual fez parte a 1.º Tenente Melo Gomes, distinto Chefe do Serviço de Operações, actual Almirante, ex. Chefe do Estado-Maior da Armada, a quem por minha proposta lhe foi atribuída uma Medalha de Mérito Militar, pela sua elevada competência, brio e dedicação, que muito contribuiu para que o Comandante da Esquadra, Comodoro Gordon Edwards, tivesse reconhecido em louvor escrito, o reconhecimento pelo brilhante desempenho das missões operacionais da Fragata portuguesa.
Destaco na minha memória um homem que bem merecia que o seu nome figurasse numa lápide na Escola de Fuzileiros: Eduardo Henriques Pereira, um rapaz bem desenvolto e de cabeça erguida, que nada temia, mesmo em combate.
E porque era meu “ordenança” algumas vezes me zanguei, porque ao soarem os tiros do inimigo, o Ericeira esquecia tudo e corria disparando a espingarda e por vezes a metralhadora na direcção dos guerrilheiros. O Ericeira era uma força da Natureza!
Mas sobre o “Ericeira” já escrevi um artigo, nos Anais do Clube Militar Naval, correspondente a Janeiro a Março de 1971 o que felizmente contribuiu para que a rua principal da Ericeira, homenageie o Eduardo Henriques Pereira, com o seu nome! Era valente!
E aproveito para tornar público que em Angola entrou numa palhota em chamas, donde retirou uma criança com vida. E igualmente lembro que num Rio do Leste de Angola, num bote de borracha em patrulha, foi baleado, tendo morrido alguns Fuzileiros e escapou com vida, mas com várias balas, o Tenente Sarmento, da Reserva Naval, porque o Ericeira pegou numa G3 com uma mão e com a outra manobrou o motor do bote, que lançou para a margem do rio, donde vinham os tiros e fazendo fogo, conseguiu afugentar os guerrilheiros! Como diria Camões: “Bem dita Pátria que tais filhos tem!
Fui nomeado para tirar o curso de Fuzileiro Especial. E posteriormente para comandar o D.F.E. 9 (Destacamento de Fuzileiros Especiais n.º 9), porque 3 Oficiais, antes da minha nomeação, escusaram-se, alegando problemas de saúde!
Fui nomeado 8 dias antes de embarcar em Lisboa no N.R.P. “São Gabriel”. E tudo encarei com normalidade, por dever de ofício! Afinal, esses Oficiais nem sabem a honra que perderam!
Os Fuzileiros são um braço importante da Marinha, para o desempenho das suas missões. Os Fuzileiros são o único órgão da Marinha que nunca se esquece de me convidar para as cerimónias comemorativas, o que aceito com prazer. Pela minha parte creio, que já exprimi bem o enorme orgulho que sinto em ter servido a Marinha como Fuzileiro.
Associação de Fuzileiros:
Em 26 de Fevereiro de 2000, a lista de que fazia parte, foi eleita com cerca de 70% dos votos, em relação à outra lista, na qual se situavam pessoas notáveis, pelo que me senti orgulhoso e por outro lado com a obrigação de me dedicar às minhas tarefas. Por isso acompanhei quase todas as reuniões da Comissão Executiva e normalmente intervim, juntando a minha opinião.
A minha intervenção foi maior no 2.º mandato, para o qual foi eleita a minha lista, com elevada votação, embora como lista única. E digo que actuei mais nas reuniões do 2.º mandato, porque tivemos vários desgostos.
- Assim, o Presidente da Comissão Executiva teve um acidente vascular, do que resultou uma grande incapacidade.
- Perdemos por falecimento um vogal que era um grande valor da Comissão Executiva.
- A um outro vogal da C.E. foi amputado um pé, por motivos de saúde.
No 1.º e 2.º mandatos efectuámos várias Assembleias-Gerais, muito participadas, para discutirmos e aprovarmos os seguintes importantíssimos documentos, para darmos vida jurídica à Associação:
- Estatutos da Associação de Fuzileiros.
- Regulamento Eleitoral da Associação de Fuzileiros.
- Regulamento Interno da Associação de Fuzileiros.
- Escolha do Logótipo e do estandarte da Associação.
Estas assembleias foram demoradas e muito participadas, o que valorizou aqueles documentos. Recusei candidatar-me a 3.º mandato, embora tenha sido convidado para tal missão.
Vem a propósito dizer que tive o imenso prazer em subscrever, juntamente com o Comdt. Salgado Soares e o Senhor Secretário da Defesa e dos Antigos Combatentes, Dr. Henrique Rocha de Freitas, com a presença do Almirante CEMA e com uma certa pompa, o protocolo que cedeu à Associação de Fuzileiros uma grande parte da Delegação Marítima do Barreiro.
Rotários: Durante 23 anos fui rotário, com diversas funções, até a de Presidente.
Empresa:
Em 1987 passei à Reserva da Armada, a meu pedido. Passei a exercer a gerência de um armazém de Distribuição por Grosso, de medicamentos, especialmente virado para a exportação, mas também com atividade a nível nacional.
Em Maio do ano passado, mudei as instalações de um armazém antigo na Brandoa, para um pavilhão moderno no Cacém com cerca de 500 m2 de área coberta, que adquiri em novo, com 2 Robot´s com cerca de 8,5 m de altura, comandados informaticamente.
Por proposta do Supremo Tribunal Militar e despacho conjunto dos Ministros das Finanças e do 1.º Ministro, foi-me atribuída a pensão por serviços excepcionais e relevantes prestados ao País.
E dado que me alonguei em considerações, informo também as condecorações que me foram atribuídas:
- Insígnias de Torre e Espada colectiva.
- Pensão por serviço relevante prestado ao País.
- Cruz de Guerra de 1.ª Classe.
- Medalha de Serviços distintos, Prata, com palma.
- Medalha de Serviços distintos, Prata.
- Medalha de Mérito Militar de 1.ª classe.
- Medalha de Mérito Militar de 2.ª classe.
- Medalha de comportamento exemplar, Prata.
- Medalha das Campanhas, com as legendas 1958/60 Índia; Guiné 1964-66.
- Medalha das expedições com a legenda: Cabo Verde 1972/74.
- 1 Medalha do Infante D. Henrique.
- 14 Louvores individuais e diversos colectivos.
Eu amo a Marinha e adoro os Fuzileiros.
Horácio G. Metelo de Nápoles
Capitão de Mar-e-Guerra (Ref.)